Não negocio com terroristas, dizia para Nah. Durante o café da manhã, enquanto Nah insistia em extrair mais algumas gotas de ketchup do frasco enrugado, Teresa repetia o de praxe:
- Já arrumou aquela bagunça, querida? Não me venha com guerrilhas fantasiosas outra vez, certo?
- Já vou... - Nah respondia bocejando, olhando para os lados à procura de uma saída de emergência. Todavia, sua mãe tratava de mantê-las fechadas.
- Termine de comer e vá. Já se passaram cinco minutos, sabia?
- Não posso – Nah dizia.
- A Nah de cinco minutos atrás não existe mais. Mortos saldam suas dívidas Dona Teresa - Nah ria. Aprendera um pouco de retórica nas apostilas de filosofia do cursinho.
- Bom, então espero que a nova Nah saiba lavar a louça e passar a roupa – Teresa dizia lentamente, saboreando cada sílaba.
- Quando minha mãe virou a madrasta má?! - dizia estupefata, Nah. Teresa colocava os óculos escuros, pegava a bolsa, virava-se de costas e, acenando dizia:
- Te vejo mais tarde...Tenha um bom dia Cinderela – pendurava avisos na porta do banheiro, da geladeira e do quarto de Nah antes de ir para o trabalho.
domingo, 21 de dezembro de 2008
sábado, 13 de dezembro de 2008
NAH CHUVA MAIS UMA VEZ: Nostalgia com Waffles.
O acontecimento despertara o interesse da Nostalgia: Nah lembrou-se da mãe que sempre lhe repreendia por falar com estranhos. A mãe continuava a lhe repreender, pregar-lhe sermões com um martelo enferrujado, entretanto, usava meios mais ortodoxos que as broncas e puxões de orelha da infância. A mãe de Nah não se conformava com as escolhas da filha. Nah saira de casa dois meses atrás e não voltara - não ligava, tampouco retornava as ligações, enviava cartas ou e-mails. Nah chamava de independência o que sua mãe chamada Teresa, chamava de Imprudência. O pai de Nah se separara de sua mãe muito cedo, quando ela tinha apenas seis anos de idade. A mãe de Nah aceitou o divórcio sem relutância, já que a relação desgastara-se bastante e, incomodava-lhe a presença dos pés frios de um estranho em seus lençóis. Ironizava a situação nos jogos de cartas de sexta-feira à noite. Dizia para as amigas que não precisava de vibradores orgânicos. Teresa as convencia de que estava certa e o melhor que faziam, era continuar jogando cartas ao invés do jogo da Verdade. Nesse jogo Teresa sempre perdia. E Teresa odiava perder. Preferia enfrentar o azar no pôquer, as risadas altas e as provocações, o curinga resenhado, os ases, ouros, espadas, pedras e paus, truques e trapaças de Verônika, vizinha e convidada em casos de emergência; quando nem toda lista telefônica podia resolver. Verônika era a substituta natural de Irene, sua irmã gêmea, quando Irene se encontrava perdida e indisposta, flertando com a Depressão no fundo de um poço escuro 4x4. Irene era negra, muito alta, tinha 1, 86 centímetros de altura e aspirações, tornozelos bem torneados, olhos cor de mel e uma voz que encantava e intimidava homens e mulheres em proporções. Ela estudava canto lírico desde os oito anos, mas como faltavam óperas na região, ganhava aplausos e a vida em clubes noturnos de soul e jazz da cidade. Verônika era meio centímetro mais alta, um minuto mais nova e discutia relacionamentos com estranhos no elevador. Morava no terceiro andar do edifício, dois acima da irmã mais velha. Nah considerava-lhe sua tia adotiva favorita. Verônika ensinara Nah a tocar violão e se maquiar. Também lhe ensinou alguns palavrões, a calcular e a desenhar dragões. Não tivera tempo de ensiná-la a jogar pôquer. Lamentava-se por isso. Coube a mãe de Nah ensiná-la a mastigar direito a comida, escovar os dentes, fazer waffles e panquecas de queijo e que óculos escuros e protetores solares são indispensáveis. E que não adiantava, a existência de duendes revolucionários no colchão, um pretexto com o aval da Preguiça, não funcionaria outra vez – Nah teria que arrumar o quarto ou sofreria com castigos e sanções severas. Citações do estatuto de defesa dos direitos da criança e adolescente, acusações de fascismo, greves de fome nem ameaças de atentados aos bons costumes, comoviam, convenciam Teresa de que ela precisava ser mais flexível com a filha.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
NAH CHUVA MAIS UMA VEZ
Nah sentou-se nos fundos do vagão, num assento reservado para idosos, deficientes físicos, gestantes, passageiros com crianças no colo e, extraordinariamente "pessoas socialmente indispostas". Nah tramava uma maneira de tornar sua conduta legalmente aceita - seus olhos vagavam pelo vagão, enquanto imaginava sua licença usurpada ilustrada ao lado das demais. Nah tinha fobia social. Parecia bastante satisfeita hoje, afinal, havia apenas cinco pessoas naquele vagão. Um milagre parecido só feriados prolongados e os minutos finais do fim do dia poderiam proporcionar. Um homem de meia-idade, calvo, com um jornal aberto, sentava-se do lado oposto de Nah. Folheava o caderno de negócios apressadamente. Nah espiava o verso do jornal, assim que o homem dobrava as páginas. Ela tentava entreter os olhos inchados. Gastara o último frasco de colírio, poucas horas antes, durante uma crise repentina de renite. O caderno de negócios não fica longe das palavras cruzadas, imaginava. Bastava um pouco de paciência e, logo, logo estaria testando todo conhecimento que adquirira no Google. No entanto, o homem deteve-se numa página, observou cuidadosamente os índices da bolsa de valores e, deixando um "tsc" escapulir entre o vão dos dentes cerrados, fechou o jornal. Nah perdera a última chance de matar o tempo sem sujar as mãos. Abriu a bolsa, pegou o lápis de olho, desenhou algumas estrelas nas unhas da mão direita. Poucos instantes depois, após apagar o esboço de um coração no dedo anular, Nah adicionou uma lua minguante à estrela solitária do polegar direito. Assim que se virou, notou os olhares de uma garotinha sentada do lado esquerdo do vagão. A garotinha sentava-se do lado da mãe, cujos sentidos oscilavam – ela cochilava indiferente aos avisos de desembarque. A garotinha olhava para Nah, abraçando com força, o que Nah imaginava ser um pingüim de pelúcia azul. A mãe da garotinha nos breves instantes de consciência retocava a maquiagem com a ajuda da janela, retirava o excesso de batom vermelho com um lenço de papel, ajustava a saia curta, justa e vermelha e calçava parcialmente os sapatos de salto alto. Para Nah existia algum tipo de elegância marginal nos modos da mulher; uma vulgaridade sublimada pela graça dos movimentos. Os olhos fundos denunciavam o descaso da mulher com o sono. Nah guardou o lápis de olho, pegou uma barra de cereais e, depois de constatar que o homem de meia-idade já guardara o jornal numa pasta de couro preta, ofereceu timidamente a barra para a garotinha. A garotinha abaixou a cabeça, moveu-a de um lado para o outro, rejeitando a oferta. Nah insistiu gesticulando; esforçava-se para que sua mímica semi-analfabeta fosse compreendida pela criança de 09 anos de idade. A garotinha riu ao ver os gestos tresloucados de Nah; colocou a mão direita nas costas do pingüim de pelúcia, fez alguns movimentos, doravante mexeu o bico dele, revelando um boneco ventríloquo, que até então ocultava. Depois cochichou alguma coisa no ouvido do boneco, abaixou a cabeça e falou, baixinho, com movimentos minuciosamente minúsculos da boca: - Mamãe me disse para não falar com estranhos. Nah pensou, titubeou, pegou o lápis de olho de volta, riscou um balão de diálogo num lenço de papel branco com a frase: “Entendo... Mas e seu amigo?”. Não fala com estranhos também?”. Em seguida pegou outro lenço, escreveu entre parênteses” Ou é tímido demais?”, em letras garrafais. Nah e a garotinha riram. Nah trocara a ordem das mensagens acidentalmente. A garotinha respondeu usando o pingüim como porta-voz: - Falo, mas hoje tô doente... Preciso descansar – fazendo uma expressão triste com o rosto do boneco. A cara dele contrastava com a voz fanha e engraçada que a garotinha usava. Nah então percebeu que havia um termômetro colado com um band-aid, bem debaixo de uma das asas do pingüim. Conteve-se para não rir. Ponderou um instante:” não é nada fácil a vida dessas criaturas nos trópicos “. O dia estava muito quente mais uma vez, no entanto Nah ainda parecia incrédula: recusava-se a acreditar que pingüins de pelúcia sofriam de insolação. Talvez alguns dias numa geladeira confortável fariam bem, divagava. De repente, após uma nova mensagem de desembarque, a mãe da garotinha acordou assustada. Refeita do susto, um devaneio ruim, colocou a mão no rosto da garotinha, alisou-o por um instante e a abraçou com força, amassando o bico do pingüim de pelúcia e amarrotando o vestido rosa da filha. Levantou-se, pegou a filha pela mão e saíram pela porta recém-aberta. A garotinha despediu-se de Nah sorrindo, exibindo as janelas da casa de cálcio( o pagamento das fadas estava em dia), fazendo movimentos com uma asa e o bico amassado do pingüim.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
24 de SETEMBRO
Enquanto voltávamos ao percurso habitual, trombamos com a tia dele por acaso(mundo congestionado!); uma senhora simpatisíssima diga-se de passagem, que nos ofereceu comida(segundo ela uma sopa deliciosa nos aguardava se aceitássemos) - recusamos, ela insistiu, pediu que comêssemos um lanche, tomássemos uma vitamina pelo menos, mas não mudamos de idéia. Estávamos cansados, abatidos, o entusiasmo perdera-se em alguma esquina lá atrás. Visitamos um cinema que a simpática tia de meu comparsa indicou, mas a próxima sessão demoraria umas duas horas e não tínhamos disposição pra uma sequer. Nos despedimos da simpática senhora que mais parecia uma avó saída de algum conto infantil, daquelas que fazem bolinhos de chuva e contam histórias pros netos, tamanha a afabilidade. Caminhamos cerca de meia-hora, até lembrarmos da recomendação dada pela simpática senhora(acredite, mesmo que eu soubesse o nome dela, ele não a descreveria melhor): ela nos mostrou um ponto e o horário onde poderíamos pegar um ônibus que nos levaria direto pra casa, sem rodeios e baldeações. Não conversamos muito na volta, estávamos imersos em nossos próprios mundos particulares; ouvíamos música, de vez em quando ríamos sozinhos, nada digno de mais um parágrafo . Meu comparsa sugeriu que eu fosse a casa dele ainda, tomar alguma coisa, esticar a conversa, mas eu só pensava em esticar minhas pernas - recusei a oferta, nos despedimos e sabíamos que cada um trazia na mochila mais do que embalagens de barras de cereais e uma garrafa de água vazia.
sábado, 8 de novembro de 2008
24 X
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
24 [3]
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Fotografia por Naki. Até a próxima...
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
24²
Começamos nossa longa caminhada subindo uma avenida movimentada; carros, faróis, prédios e de vez em quando gente de verdade. Eu carregava minha mochila no toráx e abdome, parecia um marsupial e meu comparsa, biólogo formado, não pode deixar de rir bastante com meu comentário - emendou, no tom sarcástico e irônico habitual que "marsupial no Brasil é gambá". Ele flertava através de olhares com as moças bonitas que passavam(ou passeavam) em ônibus, admirava solitariamente algumas sílfides desavisadas que cruzavam nosso caminho - eu via tudo e ria comigo mesmo. Ele brincava dizendo que se não éramos irmãos em outra vida, éramos farinha do mesmo saco - só isso explicaria nossa sincronia nos pensamentos. Muitas vezes nem falamos nada, um apenas olha pro outro e sabe, é como a telepatia que você não encontra nos filmes de ficção. Meu comparsa trazia na mochila barras de cereais com chocolate prum inverno inteiro, placas de rede que eu havia lhe entregado antes por medo de esquecer depois, baquetas e esperanças. Como havíamos combinado, assim que chegamos numa rua famosa por ser um antro musical(há lojas de instrumentos nas quatro direções), fomos ver um violão pelo qual meu comparsa se apaixonara menos de uma semana atrás. Ele não toca o instrumento; faz conservatório de bateria há menos de três meses, tem um baixo mas não sabe tocá-lo também, no entanto é um colecionador de instrumentos dedicado - ele tenciona aprender a tocar todos eles um dia. Ele diz que toca berrante, mas não sei se é verdade nem sei se existe uma escala musical pra isso. Testei o violão durante alguns minutos, dei um veredicto positivo; gostei do instrumento - geralmente sou um cliente chato, testo muitos instrumentos e não levo nenhum e dessa vez não seria diferente, mas meu comparsa estava apaixonado pelo violão e o amor fez com que ele estragasse meus planos - fechou negócio com o vendedor poucos minutos depois. Ele parecia uma criança com um brinquedo novo.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
24 - (0)
domingo, 21 de setembro de 2008
SOBRE ANNA: Fim do Mundo
Anna descobriu isso numa manhã. Era sexta-feira, 14 de junho de 1979. Mãos grandes e ásperas pesavam sobre seus ombros. Fazia um frio insuportável. Chovera muito algumas horas atrás.”Quando as pessoas morrem um anjo desce do céu e as leva para lá, Anna”, seu pai dizia-lhe com uma expressão apática e sombria. E ao ser perguntado por que sua esposa não acordava, repetia:”Ela está dormindo agora querida “– “foi para um lugar muito, muito distante daqui” – “não se preocupe, o papai está aqui“– “está tudo bem” – em seguida acariciava os cabelos e a testa da garotinha carinhosamente. Anna gritava, chorava, mas a mãe não acordava. Homens vestidos de preto revolviam a terra úmida com pás, jogavam-na sobre a cova recém-aberta. Mentiram para ela. Ela sabia. Sempre mentiam. Nada fazia sentido para Anna agora. Nem aquela coisinha chamada Vida. Pessoas morriam. A Vida era uma garotinha frágil no final das contas. As últimas palavras da mãe ressoavam como um estampido na sua cabeça:- Não se preocupe querida...É apenas água salgada – dizia a mãe de Anna enquanto enxugava os olhos úmidos num lenço branco. Anna olhou para ela e indagou:
- Ué...Cadê o mar mamãe?
- Está aqui querida – a mãe de Anna colocou o dedo fura-bolos direito na íris esquerda azulada da garotinha, fez um movimento leve para baixo, tocou a pálpebra retirando um cisco e sussurrou no seu ouvido:
- Aqui fica a praia. Querida quero que me prometa uma coisa: você vai construir castelos de areia, está bem? – soluçou, sorriu sem graça e abraçou-lhe fortemente. Anna sentia um aperto – e o abraço não era o único responsável. Anna não esqueceria.
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
SOBRE ANNA: Fim do Mundo(Prelúdio)
Anna pegou o último chiclete que sobrara na bolsa. Não podia desperdiçá-lo. Usaria-o com cautela. Dividiu-o em duas metades ligeiramente iguais, levou uma delas à boca e mascou lentamente, deixando que a goma tingisse sua língua de violeta. O gosto doce aliviava a tensão. A intensidade do efeito era irregular. Podia durar horas ou apenas alguns minutos. Anna não estava com sorte. Levantou-se e voltou a caminhar. O pátio do colégio lhe esperava uns 120 metros adiante. Os passos desritmados dela produziam um som desagradável, cacofônico e irritante. A sola do coturno estava seriamente comprometida. As pernas cansadas, formigando, imploravam por um descanso. Anna carregava o peso das pequenas coisas – coisinhas que significavam muito para ela. Passou por uma amarelinha tomando cuidado para não pisar no inferno. Os ecos dos passos desapareciam pouco a pouco, juntando-se às escadarias e um corredor amplo que levaria-lhe ao seu destino. Estava muito perto agora. Parou em frente um muro que continha frases subversivas escritas com spray vermelho barato, desenhos, marcas e corações de casais apaixonados. Tinha que estar ali. Anna não lembrava direito o que procurava com tanto afinco. Procurava qualquer coisa que lhe parecesse familiar. Abaixou a cabeça, fechou os olhos, beijou o pingente do colar, lembrou-se da mãe. Ela lhe dera o colar assim que Anna completou sete anos de idade. Dizia que ele tinha uma história:”Tudo tem uma história Anna” – “não se esqueça” – não cansava-se de afirmar. Esta era antiga. Anna o carregava para onde quer que fosse. O pingente do colar tinha a forma de uma bola de gude. No interior dele havia uma substância, um líquido viscoso que conservava uma mariposa cinzenta morta. A aparência bizarra do colar levantava suspeitas sobre sua procedência. Anna gostava de mariposas – mariposas são legais, dizia. O fato dela não estar viva não lhe incomodava. Embora mariposas e insetos em geral possuíssem um defeito imperdoável. Geralmente tais criaturas morriam queimadas de maneira estúpida em alguma fogueira. Nasciam, viviam, morriam de maneira estúpida. Não eram muito diferentes dos humanos, Anna pensava. A Vida era cheia de encanto, mariposas e insetos – não na mesma proporção decerto. Mariposas simbolizavam o fim inevitável das coisas.
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Imagem por G. Até a próxima...
sábado, 30 de agosto de 2008
A Carta Azul
Acorda cedo, levanta, lava o rosto, os papéis na gaveta não mentem: aconteceu mesmo. É estranho, ele imaginou que as coisas voltariam ao normal quando acordasse. Normal...Normais...Agora vê o quanto se acostumou aos padrões. Era fácil, só precisava repeti-los continuamente, dia-a-dia, de maneira mecânica, sem sentir, sem pensar, sem vida. Sente falta da rotina, é irônico, mas nela encontrava um porto seguro. Se acomodou, se acostumou, o doparam, o domesticaram, depois o dispensaram - trocou seu quadrado, seu círculo, por alguma forma e fórmula geométrica desconhecida. Ele pega o ônibus, nota um rosto familiar dentre tantos estranhos; se cumprimentam, dividem lástimas, boa fé, uma integridade repartida ao meio - ele até ignora o português vulgar e vencido de seu ilustre companheiro a prazo. Aguarda sentado um exame, uma sentença, que alguém, algo lhe diga que pode voltar pra casa. O médico responsável lhe chama, ele atende, entra numa sala com as paredes brancas repletas de réplicas baratas de quadros famosos - sob a mesa, caído, está um retrato em preto e branco antigo. Ela é jovem, loira, bonita, ele imagina que o sorriso dela talvez seja a única coisa autêntica ali. Os olhos do médico olham pro monitor do computador, enquanto o mesmo lhe faz as mesmas perguntas que são respondidas do mesmo jeito. Ele volta pra casa, espera o almoço e alguma coisa que não esteja no cardápio - lá fora suas crenças morrem de inanição.
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Imagem por Goo...Ah vocês já sabem _ _
domingo, 27 de julho de 2008
DES-ORIENTADO
Houve uma época em que Ele atravessava o frenesi da avenida mais famosa da cidade Cinza, pra ir ter com a Liberdade noite-dia, fim de semana sim fim de semana não, conferir de perto o lançamento das novidades que vinham de longe; DVD's, mangás, ipod's, raridades, espiar revistas de contrabaixo japonesas em sebos locais(Dó-ré-mi-fá-sol-la-si é assim! Não importa o lugar), transeuntes falando um idioma diferente, indiferentes, tomar suco de goiaba na feira e relutar(mais uma vez) em provar Yakisoba, ver as gueixas solitárias sentadas nas escadarias da estação, ouvindo J-Pop/Rock, Enka, uma em três, seis, nove, doze, dezesseis num walkman made in Taiwan, gatos japoneses de porcelana chinesa que sempre muito amistosos, cumprimentavam todos que se dispunham a olhá-los do outro lado da vitrine)fora( - coisinhas que esquecera, mas que ainda moravam ali(dentro) Mas agora Ele está em casa, "seguro" e trancado - e gripado. Pensava em ir a casa de amigos tocar, fazer música, fugir, mesmo assim, nesse estado deplorável - imagina que é alguma espécie de mártir desvirtuado. Os amigos desistiram, não por causa dele, eles confessaram que agora tinham um pretexto pra se curarem de suas próprias "ressacas". Ele olha da janela, desolado, pra calçada vazia. A Vida passa, Ele fica. Só lhe restou a combinação Coldplay cobertor violão.Konichiwa.
quarta-feira, 23 de julho de 2008
AMÔRNICA: X = Y
O chevrolet vermelho comportava-se bem; apesar dos ruídos em quarta diminuta, o pára-brisas, os faróis, freios e buzina funcionavam perfeitamente. A vela do motor, desgastada, não apagava por pouco, contudo nada que uns ajustes na repimboca da parafuseta não dessem um jeito. O vidro traseiro, apresentava um adesivo, com a seguinte frase em letras pretas: ”Não ando à pé ou de bicicleta, tenho muitos cavalos que marcham”. Filosofia de pára-choques de caminhão sofisticada. Xavier ligou o rádio, sintonizou na FM familiar – tocavam uma canção que lhe agradava. A canção que Yai adorava – que repetia, repetia e repetia tantas vezes. Um teste de fogo para o aparelho de som velho e cansado. Xavier pensava nela. Ela enjoara outra vez. Inventava: balançou delicadamente o chaveiro com a inicial Y, abriu o porta-luva, retirou um par de sapatinhos de crochê, pendurou-os no espelho do passageiro, aumentou o volume do rádio, acelerou e começou a cantar. Xavier amava Yai. Ela lembrava-o de que era feliz. 20 minutos dali, Yai preocupava-se. A menstruação estava atrasada. E se estivesse grávida? Não estava preparada, pensou. Alisou o ventre rapidamente. Prosseguiu. Se alguém estivesse em casa atenderia. De repente, passou pela sua cabeça as dúvidas mais impulsivas e impossíveis possíveis: "o que Xavier acharia? Ele ainda gostaria de mim se eu engordasse muito? E todo aquele leite de soja transgênica que bebi de manhã? Afetarão o desenvolvimento do bebê? AI MEU DEUS VOU EXPLODIR!". Yai respirou fundo, pegou o chaveiro com a inicial X; empurrou a maçaneta da porta, deteve-se um instante: tinha a impressão de que ouvira algo. Sorriu, acariciou a inicial X e entrou no apartamento. Ficaria bem. Tinha Xavier. Xavier e Yai entrariam numa nova fase agora. Uma fase estranha e complicada. Precisariam ser mais responsáveis do que nunca, afinal, não eram mais alunos do primeiro grau. X e Y foram feitos um para o outro, embora um igual (=) insista em se meter entre os 2. A matemática é uma ciência exata. E o amor...O amor às vezes dá certo.
segunda-feira, 30 de junho de 2008
AMÔRNICA: Gostosuras ou Travessuras?
Foi no
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Imagem by Google. To be continued...
quarta-feira, 25 de junho de 2008
AMÔRNICA: Contra Chronos.
Yai
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Imagem by Google. Continua...Lálálá rs.
sexta-feira, 20 de junho de 2008
AMÔRNICA: Nós Quatro.

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Imagem by Google. Continua(again?)...
segunda-feira, 16 de junho de 2008
AMÔRNICA: Dois.
Yai adorava
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Imagem by Google. Continuagain...
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