sexta-feira, 20 de junho de 2008

AMÔRNICA: Nós Quatro.

Hoje Xavier cumpriria a promessa. Fora promovido. Ele acreditava que Yai precisava de um animal de estimação também – convencera-se disso. Todavia, não havia espaço para mais um São Bernardo. Chico ficaria solteiro. Xavier resolveu então pedir conselhos ao atendente do pet shop, que solícito, sugeriu-lhe uma iguana. Xavier olhou o réptil da cabeça a cauda, coçou a cabeça:”frio demais!” - em seguida perguntou ao atendente se não tinham nada menos exótico. O atendente então sugeriu-lhe um hamster. Um mamífero tradicional e caseiro. Xavier olhou para as gaiolas, viu um hamster devorando sementes de girassol – do lado, outro, reconchudo, suava na esteira. Aquilo pareceu-lhe engraçado. Faltava alguma coisa ainda - não era este. O atendente acendeu um cigarro, tinha um chapéu de explorador e tatuagens espalhadas pelo corpo inteiro. A girafa azul no bíceps esquerdo destacava-se. Xavier sempre teve sérios problemas com escolhas. Ele era o X da questão. Passava mais de uma hora na locadora, alugava os filmes errados e voltava para casa. Encontrava Yai cochilando no sofá, Chico esparramado no carpete, a televisão fora do ar e um balde de pipocas frias. Xavier acordava Yai fazendo cócegas na planta de seus pés. Cansada dos constantes atrasos, Yai resolveu ensiná-lo a portar-se diante a escolha de um filme: bastava que escolhesse um romântico, bonitinho, com um piano afinado e chuva que ela daria-se por satisfeita. Dessa vez Xavier não contaria com sua ajuda. Precisava escolher sozinho(“CÉUS, COMO FARIA ISSO?!) – se até as cores de seus pijamas foram escolhidas por ela!?. Quem sabe uma arara, pensou. Yai teria alguém para alfabetizar, conversar e dar alpiste todos os diasalguém que faria-lhe se sentir importante incondicionalmente. Xavier acompanhou o atendente até o viveiro, mas assim que adentrou o lugar, ouviu consternado araras vermelhas, azuis e amarelas saudarem o atendente com palavrões em uníssonoele parecia bastante popular. Xavier acabou deixando o pet shop com as mãos vazias e a promessa de que entregariam o aquário e sua moradora, uma estrela-do-mar, no fim de semana. Yai adorou a surpresa. Ficou ainda mais feliz quando descobriu o motivo. Disse que a estrela-do-mar se chamaria Lis. Uma estrela com nome de flor.Yai não dispensava flores. Xavier gostava bastante dos cactos que preservava num vaso de areia; feito com um pote de iogurte desidratado. Yai não sabia o que dizer para agradecer. Xavier disse que se ela não dissesse nada, arrancaria as palavras de sua boca à força: tomou-a nos braços e beijou-lhe e intensamente. Chico olhou para a cena e a estrela enciumado. Nestes momentos, Xavier esquecia o quão incomodava-lhe as abreviações que Yai usava: pra, tá, pra, tô, pra, quê, mor, etc.