Hoje Xavier cumpriria a promessa. Fora promovido. Ele acreditava que Yai precisava de umanimal de estimação também – convencera-se disso. Todavia, não havia espaçoparamaisumSão Bernardo. Chico ficaria solteiro. Xavier resolveu entãopedirconselhos ao atendente do pet shop, quesolícito, sugeriu-lhe uma iguana. Xavier olhou o réptil da cabeça a cauda, coçou a cabeça:”friodemais!” - emseguida perguntou ao atendente se não tinham nadamenosexótico. O atendenteentão sugeriu-lhe umhamster. Ummamífero tradicional e caseiro. Xavier olhou para as gaiolas, viu umhamster devorando sementes de girassol – do lado, outro, reconchudo, suava na esteira. Aquilo pareceu-lhe engraçado. Faltava alguma coisaainda - nãoeraeste. O atendente acendeu umcigarro, tinhaumchapéu de explorador e tatuagens espalhadas pelocorpointeiro. A girafaazul no bícepsesquerdo destacava-se. Xavier sempre teve sériosproblemascomescolhas. Eleera o X da questão. Passava mais de uma hora na locadora, alugava os filmes errados e voltava paracasa. Encontrava Yai cochilando no sofá, Chico esparramado no carpete, a televisãofora do ar e umbalde de pipocasfrias. Xavier acordava Yai fazendo cócegas na planta de seuspés. Cansada dos constantesatrasos, Yai resolveu ensiná-lo a portar-se diante a escolha de umfilme: bastava que escolhesse um romântico, bonitinho, comumpiano afinado e chuvaqueela daria-se porsatisfeita. Dessa vez Xavier não contaria comsuaajuda. Precisava escolhersozinho(“CÉUS, COMO FARIA ISSO?!) –se até as cores de seuspijamas foram escolhidas porela!?. Quem sabe uma arara, pensou. Yai teria alguémparaalfabetizar, conversar e daralpistetodos os dias – alguémque faria-lhe se sentirimportanteincondicionalmente. Xavier acompanhou o atendenteaté o viveiro, masassimque adentrou o lugar, ouviu consternado araras vermelhas, azuis e amarelas saudarem o atendentecompalavrõesemuníssono – ele parecia bastantepopular. Xavier acabou deixando o pet shop com as mãos vazias e a promessa de que entregariam o aquário e sua moradora, uma estrela-do-mar, no fim de semana. Yai adorou a surpresa. Ficou aindamaisfelizquando descobriu o motivo. Disse que a estrela-do-mar se chamaria Lis. Uma estrelacomnome de flor.Yai não dispensava flores. Já Xavier gostava bastante dos cactosque preservava num vaso de areia; feitocomumpote de iogurte desidratado. Yai não sabia o quedizerparaagradecer. Xavier disse que se elanão dissesse nada, arrancaria as palavras de suaboca à força: tomou-a nosbraços e beijou-lhe e intensamente. Chico olhou para a cena e a estrela enciumado. Nestes momentos, Xavier esquecia o quão incomodava-lhe as abreviaçõesque Yai usava: pra, tá, pra, tô, pra, quê, mor, cê etc.