domingo, 27 de julho de 2008

DES-ORIENTADO

Houve uma época em que Ele atravessava o frenesi da avenida mais famosa da cidade Cinza, pra ir ter com a Liberdade noite-dia, fim de semana sim fim de semana não, conferir de perto o lançamento das novidades que vinham de longe; DVD's, mangás, ipod's, raridades, espiar revistas de contrabaixo japonesas em sebos locais(Dó-ré-mi-fá-sol-la-si é assim! Não importa o lugar), transeuntes falando um idioma diferente, indiferentes, tomar suco de goiaba na feira e relutar(mais uma vez) em provar Yakisoba, ver as gueixas solitárias sentadas nas escadarias da estação, ouvindo J-Pop/Rock, Enka, uma em três, seis, nove, doze, dezesseis num walkman made in Taiwan, gatos japoneses de porcelana chinesa que sempre muito amistosos, cumprimentavam todos que se dispunham a olhá-los do outro lado da vitrine)fora( - coisinhas que esquecera, mas que ainda moravam ali(dentro) Mas agora Ele está em casa, "seguro" e trancado - e gripado. Pensava em ir a casa de amigos tocar, fazer música, fugir, mesmo assim, nesse estado deplorável - imagina que é alguma espécie de mártir desvirtuado. Os amigos desistiram, não por causa dele, eles confessaram que agora tinham um pretexto pra se curarem de suas próprias "ressacas". Ele olha da janela, desolado, pra calçada vazia. A Vida passa, Ele fica. Só lhe restou a combinação Coldplay cobertor violão.

Konichiwa.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

AMÔRNICA: X = Y

O chevrolet vermelho comportava-se bem; apesar dos ruídos em quarta diminuta, o pára-brisas, os faróis, freios e buzina funcionavam perfeitamente. A vela do motor, desgastada, não apagava por pouco, contudo nada que uns ajustes na repimboca da parafuseta não dessem um jeito. O vidro traseiro, apresentava um adesivo, com a seguinte frase em letras pretas: ”Não ando à pé ou de bicicleta, tenho muitos cavalos que marcham”. Filosofia de pára-choques de caminhão sofisticada. Xavier ligou o rádio, sintonizou na FM familiar – tocavam uma canção que lhe agradava. A canção que Yai adorava – que repetia, repetia e repetia tantas vezes. Um teste de fogo para o aparelho de som velho e cansado. Xavier pensava nela. Ela enjoara outra vez. Inventava: balançou delicadamente o chaveiro com a inicial Y, abriu o porta-luva, retirou um par de sapatinhos de crochê, pendurou-os no espelho do passageiro, aumentou o volume do rádio, acelerou e começou a cantar. Xavier amava Yai. Ela lembrava-o de que era feliz.
20 minutos dali, Yai preocupava-se. A menstruação estava atrasada. E se estivesse grávida? Não estava preparada, pensou. Alisou o ventre rapidamente. Prosseguiu. Se alguém estivesse em casa atenderia. De repente, passou pela sua cabeça as dúvidas mais impulsivas e impossíveis possíveis: "o que Xavier acharia? Ele ainda gostaria de mim se eu engordasse muito? E todo aquele leite de soja transgênica que bebi de manhã? Afetarão o desenvolvimento do bebê? AI MEU DEUS VOU EXPLODIR!". Yai respirou fundo, pegou o chaveiro com a inicial X; empurrou a maçaneta da porta, deteve-se um instante: tinha a impressão de que ouvira algo. Sorriu, acariciou a inicial X e entrou no apartamento. Ficaria bem. Tinha Xavier. Xavier e Yai entrariam numa nova fase agora. Uma fase estranha e complicada. Precisariam ser mais responsáveis do que nunca, afinal, não eram mais alunos do primeiro grau. X e Y foram feitos um para o outro, embora um igual (=) insista em se meter entre os 2. A matemática é uma ciência exata. E o amor...O amor às vezes dá certo.