Yai sónão superava a vizinhaque acordava de manhãzinha parapedircafé e açúcar emprestado, comumsorriso no rostotãoverdadeiroquanto uma Mona Lisa de Picasso. A estranha chamava-se Joana e tinha uma aversãoinexplicável as consoantes: oiii, ééé, iiii, oooo, uuum compunham a maiorparte do seuvocabuláriosocial. Vestia umrobecurto, vermelho e insinuante, carregava uma xícara e umjornal nas mãos. Trocava de namoradotodasemana – Yai contara. Quando ia para o trabalho, Yai voltava a esbarrarcomela no corredor. Xavier a evitava. Porsorte(claro! Poisnão há melhordefinição obviamente) o elevador enguiçava durante a semanainteira. Uma placa indicava:”Elevador em manutenção"– Xavier descia pelas escadassemolharparatrás - eramelhorcorrer dos riscos. Yai apressada, esbarrava nos outros moradores, desculpava-se comumperdão, despedia-se abruptamente e voltava a apostarcorridacom Chronos. Estava no calcanhar dele outravez. Esgotara seuscréditos no últimomês. Precisava apressar-se e o Tempoeraumtrapaceiro. Yai trabalhava numa clínicamédica, na seção de radiologia há 9 meses. Era praticamente umserviçovoluntário, jáque o saláriomal cobria suasdespesas, no entantofora a melhoropçãoque encontrara. Nãoforadifícilescolher, recém-formada, nãotinha muitas opções. Ali, 6 meses atrás, conhecera Xavier. A princípio Yai dissera para Xavier quecasoele estivesse à procura de umcoração, estava no lugar errado – a seção de cardiologia ficava do outrolado, umpoucomaispara a esquerda. Xavier usou cantadasbregas, presentes e pedantismopara convencê-la do que sentia. Yai não achara-o atraente, ria e, como estava sozinha e o rapazera ao menos engraçadinho, resolveu continuar a história. Uma históriarepleta de vírgulas, parênteses, reticências e travessões. Elaainda guardava na gaveta da cômoda, no meio de calcinhas, envelopes, cartas e cartões-postais, a chapaque continha o raio-x do primeirobeijo deles.