Yai adorava espuma de cafécom chantily, caramelos, all-star preto de canolongo, cheiro de naftalina, umvestidomarinhocom bolinhas brancas e o broche de São Longuinho, achados num brechó perdido, e dançartangocom a tábua de passarroupas. Xavier preferia cães e o programa de perguntas e respostasque passava sábado à noite. Xavier e Yai dividiam o apartamentominúsculocomumcãoSão Bernardo chamado Francisco. Às vezes, ”Chico" (como Xavier apelidara-o carinhosamente), tinhasurtos de claustrofobia. Umpacote de jujubas, algunsafagos e umpasseio pelas redondezas faziam parte da terapia. Xavier não sofria de claustrofobia, entretanto, escadas rolantes e elevadores provocavam-lhe calafrios. Antes de mudar-se definitivamente, fez várias perguntas a respeito da segurança dos elevadores do prédio. O síndico respondeu com ”claros, pois nãos e obviamentes”. Neste dia, à noite, logoapós a sobremesa, Xavier teve pesadeloshorríveis. Sonhou queratos, inquilinosindesejáveis do 209, aglomeravam-se na forma de uma tesoura; roíam e rompiam o cabo do elevador. “Bom, este foi maisoriginal do queser enterrado vivo, não?!” – rianervoso, enquanto contava para Yai o ocorrido no café da manhã. Xavier realmente detestava elevadores – e balascomgosto de xarope. Yai não gostava de cães. Tolerava-os. Chico costumava confundir os abajurescompostes – mijava neles, molhando o carpete(odiava os persas!) transformando o queantesera uma sala num banheirounderground. Yai ficava cricriquando flagrava-o mordendo, mastigando, fazendo cracks e crecks com os duendes, fadas e bruxas de ceraque ficavam na sala, emcima da mesinha de centro. Ela tolerava as peripécias dele porque sabia que o amor exigia concessões, impunha condições, tinhaseupreço. O dela tinhapreço, nome e pêlos. Xavier prometera-lhe queassimque pudesse, compraria umosso de borracha para Chico num pet shop.