segunda-feira, 16 de junho de 2008

AMÔRNICA: Dois.

Yai adorava espuma de café com chantily, caramelos, all-star preto de cano longo, cheiro de naftalina, um vestido marinho com bolinhas brancas e o broche de São Longuinho, achados num brechó perdido, e dançar tango com a tábua de passar roupas. Xavier preferia cães e o programa de perguntas e respostas que passava sábado à noite. Xavier e Yai dividiam o apartamento minúsculo com um cão São Bernardo chamado Francisco. Às vezes, ”Chico" (como Xavier apelidara-o carinhosamente), tinha surtos de claustrofobia. Um pacote de jujubas, alguns afagos e um passeio pelas redondezas faziam parte da terapia. Xavier não sofria de claustrofobia, entretanto, escadas rolantes e elevadores provocavam-lhe calafrios. Antes de mudar-se definitivamente, fez várias perguntas a respeito da segurança dos elevadores do prédio. O síndico respondeu comclaros, pois nãos e obviamentes”. Neste dia, à noite, logo após a sobremesa, Xavier teve pesadelos horríveis. Sonhou que ratos, inquilinos indesejáveis do 209, aglomeravam-se na forma de uma tesoura; roíam e rompiam o cabo do elevador. “Bom, este foi mais original do que ser enterrado vivo, não?!” – ria nervoso, enquanto contava para Yai o ocorrido no café da manhã. Xavier realmente detestava elevadores – e balas com gosto de xarope. Yai não gostava de cães. Tolerava-os. Chico costumava confundir os abajures com postes – mijava neles, molhando o carpete(odiava os persas!) transformando o que antes era uma sala num banheiro underground. Yai ficava cricri quando flagrava-o mordendo, mastigando, fazendo cracks e crecks com os duendes, fadas e bruxas de cera que ficavam na sala, em cima da mesinha de centro. Ela tolerava as peripécias dele porque sabia que o amor exigia concessões, impunha condições, tinha seu preço. O dela tinha preço, nome e pêlos. Xavier prometera-lhe que assim que pudesse, compraria um osso de borracha para Chico num pet shop.