sexta-feira, 23 de maio de 2008

AMÔRNICA: Mortis!

Dominique Sam Hain ostentava o título de cidadão do ano mais uma vez. Elegera-se pela terceira vez consecutiva. Chegara na cidade há 30 anos atrás, sozinho, carregando uma mala pesada na mão direita, a ambição nas costas e um paletó desabotoado na mão esquerda. Empreendedor, devoto de Rockfeller e Anúbis, fundou a primeira funerária da cidade 05 anos depois; assim que percebeu que a morte era um bom meio de vida. A ascensão prosseguiu com a aquisição de lotes de terra, transformados em cemitérios particulares, uma pequena companhia de seguros e dúzias de floriculturas. A morte era um ótimo negócio enfim. A funerária, curiosamente batizadaPaletó de Madeira”, ainda exibia o slogan da época de fundação:”PALETÓ DE MADEIRASEMPRE PENSANDO NO FUTURO”. Dominique também tinha senso de humor. Um senso desorientado de fato. Após anos convivendo com a Morte e Seus sorteados em roletas-russas, incêndios, acidentes domésticos, desastres aéreos, terrestres e marítimos, tiroteios, cânceres, deficiências cardíacas, doenças venéreas e uma infinidade de coisas que matavam, ele foi se esquecendo do medo que tinha dela. Porém, a Morte não esquecera dele. E ele lembraria-se dela em breve. Ela viria a galope.