
- Mais um copo de água amigo? – o desdém no seu olhar era evidente.
- Não, não obrigado.Gostaria de um cartão telefônico – Away era um bom perdedor.
- 20, 40, 50 unidades?
- Hmm...Se eu comprasse o de 20 e usasse somente a metade dos créditos, vocês me reembolsariam?
- Acho que não amigo – o balconista não parecia tão confiante dessa vez.
- Foi o que pensei. Um de vinte unidades por favor – Away acertara-lhe com um tiro silencioso. ”A batalha só termina quando acaba amigo”, Away não cansava-se de repetir em silêncio enquanto deixava para trás um boteco, algumas moedas e um homem atordoado.
Away entrou numa cabine telefônica sem se importar com os cartões publicitários, retirou um papel amassado do bolso e discou os números nele pausadamente. Enquanto ouvia o telefone chamando, lia baixinho o anúncio de uma loja de conveniências. Away estava impaciente. Os ruídos da ligação já despertavam-lhe fortes sinais de irritação, mas ele procurava conter-se. Após um minuto uma voz sonolenta atendeu o chamado:
- Hã...Alô?
- BOM DIA! – Away procurou não economizar simpatia.
- Ah, é você...Que horas são? – Nah não poupava apatia.
- 11:30 da manhã.
- O QUÊ?! 11:30 DA MADRUGADA QUER DIZER! Espero que tenha uma boa desculpa Away! Aliás, você não tinha que trabalhar?
- É...Tinha – Away contemplou por um instante o silêncio, logo prosseguiu:
- Acho que agora sei porque ligações telefônicas são tão caras.
- É verdade?! Por quê?! – Nah indagou de maneira ingênua.
- Eles não cobram apenas o tempo gasto. Adicionam os ruídos também – os ouvidos de Away ainda doíam.
- HÁHÁHÁ! Eles cobram impostos pelos ruídos?! – Nah riu por um tempo – parou assim que percebeu o quão Away parecia aborrecido com a piada. Os ouvidos dele não achavam-na engraçada.
- Que tal tomarmos um sorvete? - disse Away.
- Tá tentando me subornar, é?!Você é estranho!
- O que acha? – Away sorria.
- Do suborno ou do sorvete?
- Hehe...Do sorvete.
- Só se for um de baunilha bem grande e você me der a casquinha do seu, topa?! Away pensou, fez algumas indagações inaudíveis, mas logo aceitou as condições. Away não sabia a diferença entre um sorvete de flocos e um de baunilha, porém achou desnecessário comentar.
- Onde você tá?
- No meio do Nada, mas tem bastante gente aqui – Away esforçava-se para não rir.
- Tá bom Sir.Engraçadinho, espere aí que já vou. Só deixe-me desamassar a cara e colocar as meias, tá?
- Tudo bem – Away colocou o telefone no gancho, pegou um cartão decorativo da cabine e caminhou em direção a um sebo próximo.
Nah levantou-se depois de convencer a Preguiça que era um fato isolado. Nah voltaria cedo, antes que ela fosse embora. Abriu o guarda-roupa, colocou uma saia preta vitoriana, uma camiseta branca com os dizeres”A Bored Girl”em negrito, as meias listradas em preto e branco; calçou a sapatilha preta com salto alto, pôs o colar cujo pingente era um retrato antigo da avó falecida, uma pulseira preta; arrumou rapidamente os longos cabelos negros, prendendo parte da franja com uma presilha azul, por fim colocou óculos rayban. O sol serviria de pretexto para ocultar os olhos inchados(“você é uma garota esperta”, pensava consigo)Pegou a bolsa e um guarda-chuva preto; despediu-se de Dorothy(uma guitarra strato vermelha)pendurada na parede, apagou as luzes e saiu em busca de Away.
NOTA*: O título original deste conto é”Nah Chuva”, entretanto, resolvi criar um subtítulo e dividi-lo em duas partes(não necessariamente homogêneas)O intuito é facilitar a leitura, tornando-a mais atraente; menos efusiva e extenuante. Também serviu de pretexto para a inserção da peculiar fotografia acima. A idéia de dividi-lo até instigou-me a criar uma trilogia(algo a la Matrix e Senhor dos Anéis)A seqüência seria o originalíssimo”Depois da Chuva”^^ - o que acham da idéia?!(risos)