sábado, 23 de maio de 2009

ANÚNCIOS E CLASSIFICADOS: Parte 2.

Teve mais trabalho do que imaginou, gastou mais sola dos sapatos e saliva do que costumara gastar, mas encontrou a clínica numa rua pouco movimentada, perdida e alheia a todo seu trabalho. Tocou o interfone, o atenderam, logo em seguida dirigiu-se a sala de espera. Ficou ali quase uma hora, lendo sem muita empolgação um exemplar de uma dessas revistas "politizadas". O exame audiométrico apontou uma leve perda auditiva no canal esquerdo, nada grave, decerto consequência de anos a fio ouvindo rock num volume humanamente absurdo. Estranho foi o exame clínico geral. O médico começou fazendo as perguntas de praxe: fuma, bebe, tem alguma doença crônica, usa algum tipo de remédio periodicamente, tem histórico de câncer na família(?), toda esta ladainha que ele já cansara de ouvir. Depois de saciar sua curiosidade programada(e paga), o médicou pediu que o rapaz se sentasse numa maca e aguardasse - mediu o batimento cardíaco do rapaz, pediu que ele inspirasse e respirasse profundamente, até aí nada demais, rotina; os problemas começaram quando o médico pediu que o rapaz levantasse a camiseta e mostrasse o peito e abdômen - o médico observou-os por alguns instantes e soltou a pérola "Tá tudo bem com as bolas e o saco, amigo?" - disse num tom que tentava demonstrar alguma espontaneidade. Foi mal-sucedido. As palavras dele chocaram-se com o Muro das Afetações - aquilo deixou o rapaz surpreso - esperava que o médico usasse uma linguagem técnica e apropriada, algo como testículos e escroto serviria, deixaria a indagação um pouco menos indiscreta. Assentiu monossilabicamente. O médico então pediu que o rapaz fizesse alguns movimentos "estranhos" com a mãos; dobrou os punhos dele, pediu que ele relaxasse(como ele poderia?!) Parecia que ele tentava fazer com que o rapaz"desmunhecasse" - e o rapaz não gostava nada da idéia. Após os exercícios com os braços e punhos(o rapaz queria acreditar que eram simples exercícios físicos, cujo único intuito era verificar o estado de suas articulações), ele pediu que o rapaz virasse de costas, alinhasse os pés, levantou a camiseta dele e pressionou suas costas com as mãos durante uns 15 segundos. Satisfeito, voltou para a mesa onde preencheu os dados na ficha. Pausa na sessão de aeróbica(aquilo parecia tudo, menos uma consulta médica)O rapaz então notou que tocava um hit gay do Simply Red na sala - não via um aparelho de som, imaginou que o som vinha do notebook em cima da mesa. Antes de terminar o médico ainda pediu que ele colocasse as mãos nos pés sem dobrar os joelhos. Podia ser paranóia, mas o rapaz não gostou da cara de satisfação do médico quando ele concluiu o movimento com êxito. Sentiu falta de uma cópia do juramento de Hipócrates. Lá Ética era coisa séria.