sexta-feira, 18 de abril de 2008

SOBRE ANNA: Fugaz.

Os primeiros passos fora do quintal da Sra.Gossip foram lentos e desajeitados. Dionísio embriagava-se com a imagem dos insetos que cortejavam as lâmpadas da rua. No entanto, a luz fraca fez com que suas pupilas se dilatassem, seus sentidos se aguçassem e, refeito da embriaguez inicial, Dionísio já desfilava a elegância típica das criaturas da noite. Ele olhou para o céu, fez uma reverência a mãe de todas as criaturas da noite e subiu num telhado próximo, desaparecendo logo em seguida. Perto dali, não muito longe, Anna não conseguia dormir outra vez. Fantasmas (velhos conhecidos) sussuravam coisas em seus ouvidos. A orquestra oficial de grilos de Anesthesia tocava uma sinfonia singela, em lá menor e ritardo, obedecendo rigorosamente a partitura escrita pela Insônia. Anna esticou o braço esquerdo e, após duas tentativas frustradas e inúmeros palavrões, pegou o maço de cigarros sobre o criado-mudo. Fumou meia dúzia deles, tragando lentamente, expirando fumaça, ansiedade e sonhos pelas narinas. A Insônia chegara de mansinho, desfizera as malas e se hospedara ali. Naquela noite Anna tomara uma decisão: compraria incensos de maracujá pela manhã.