Quando estou na biblioteca da escola onde trabalho, sinto-me como uma criança que chegou a Disneylândia pela primeira vez - tudo isso sem ter que passar pelo constrangimento de ser fotografado no colo de um cara fantasiado de Mickey ou Pateta.
domingo, 6 de setembro de 2009
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
MADRUGANDO
Ele e dois amigos foram a capital ver a virada cultural. Sabiam que teriam que se virar para manter-se acordados, já que dormir naquela multidão, mesmo em turnos alternados de vigília, seria praticamente impossível. Eles estavam acompanhados de uma mulher. Ele já a conhecia de vista e conversara com ela uma vez sobre o filme Peixe Grande. Nada especial. O grupo viu shows, contou histórias, bebeu vinho barato, contou mais histórias, até que um membro sugeriu que fossem comer alguma coisa. Eles aproveitaram-se do fato de que ela sentira vontade de ir ao banheiro, unindo o útil ao necessário. Visto que não tinham muitas escolhas, adentraram um boteco fedorento qualquer; um desses recintos esquecidos pela vigilância sanitária. Era engraçado ver a reação, a expressão de nojo que tomara conta dela assim que viu o banheiro. Ele imaginou se ela se perguntava "isso é para o uso de seres humanos?". O local parecia algum set de filmes B norte-americanos de terror. As condições eram muito precárias e não havia tranca nas portas. Adivinha quem teve que ficar mais de 15 minutos guardando a porta do banheiro para a donzela apertada?. Ele que mal falava, foi escolhido sem resistência verbal para a tarefa inglória. Ele notou que alguns caras estavam lhe encarando. Também não parava de pensar no que faria se outra mulher aparecesse. Esta podia lhe confundir com um tarado, um pervertido sem-vergonha, sujeito sem moral que faria a alegria de presos numa penitenciária estadual. Ele estava bastante constrangido. Quando saiu do lugar(ele saiu um pouco antes do restante do pessoal), uma garota perdida de Campinas o abordou pedindo informações. Provavelmente a garota o confundira com um guarda de trânsito. O boné preto e a posição dele(que encontrava-se perto do farol)pareciam mais que suficientes para alguém com imaginação e problemas.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
P.S:
Pensava no que dizer, por onde começar, queria palavras bonitas, engraçadas, mas nada que parecesse papo de arquiteto(já notou que pra eles tudo deve ser feito sob medida?); queria algo espontâneo; me peguei pensando no significado de espontaneidade: ela não é absoluta. Talvez a capacidade de improviso é que torne alguém mais ou menos espontâneo - existe uma certa precognição que molda, às vezes refina, censura, enfim transforma o que pensamos em palavras - essa precognição em escala maior é a clarividência genuína, diria. Faz uns dez minutos que digito essas palavras, penso nelas há uma hora mais ou menos, é, já sei, não sou um cara espontâneo. Desculpa, temo não ter outra oportunidade tão cedo...Estou atrasado, mas não me diga que é tarde; isso parece muito tempo em qualquer fuso horário. Eu precisava fazer alguma coisa a respeito.
terça-feira, 28 de julho de 2009
A.P
Durante a viagem longa e cansativa que fazia para ir as aulas do meu curso, no segundo ônibus que pegava, certa vez vi uma cena que arrancou-me dos braços engessados da rotina. No coletivo havia uma senhora de fogo, pileque, embriagada, completamente bêbada se os adjetivos anteriores deixaram dúvidas. Ela passou metade do percurso importunando a moça que sentava-se do seu lado; visto que cantava muito mal versos desconexos de canções FM. A outra metade gastou mexendo com o cobrador, paquerando-o e o aborrecendo sem nenhum sinal de constrangimento. Ele podia mandá-la para o inferno, mas no estado que ela estava, duvido que chegaria(ou encontraria o caminho) até lá. Na volta da viagem, enquanto caminhava na calçada, trombei com um bêbado pedinte. Parece que atraio esse tipo de gente. Me pergunto se o desodorante que eu usava tinha mais álcool na composição do que o impresso no frasco.
sexta-feira, 17 de julho de 2009
DILEMMA
Pombos são criaturas melancólicas. Não esqueço o dia em que vi um que parecia tentar suicídio. Ele vagava devagar de um lado para o outro do último andar de um prédio de muitos andares. Olhava para baixo, cabisbaixo desistia, repetia o ritual, ensaiava baixinho um "adeus Mundo cruel", e quando enfim se decidira, apareceu um grupo de pombos que o dissuadiu - suponho que era a "Turma do Deixa Disso". Aquilo não saiu da minha cabeça durante dias( Liberdade e solidão...Onde fica a divisão?)
sábado, 27 de junho de 2009
MUITO LONGE DE BELÉM
Ele sobrevivera a mais um natal, já se dava por satisfeito. Não houve a comoção familiar que tanto temera durante os dias que precederam a data. Exceto pelo fato de ter sido coagido a dar um presente de natal para alguém, não teve maiores contratempos - é, ele teve que presentear a sobrinha graças aos pedidos insistentes e incisivos da avó, uma mulher que fazia horas extras como sua mãe. Como não fazia idéia do que se dava a um bebê do sexo feminino, deixou que sua mãe escolhesse por conta própria - ela escolheu um vestido multicolorido; exibiu com orgulho para todos, anunciando que era um presente especialmente dado pelo filho. Ele teve que encarar os olhares desconfiados( dele?!) e constrangedores à sua volta. "Ela tinha que escolher um vestidinho cheio de cores espalhafatosas?". Se ao menos fosse um pretinho básico...Ahhh o que estava pensando?. Não acreditava em espírito natalino. Mas todas as madrugadas do dia 25, pouco depois do dia 24 colocar o casaco cinza e voltar para casa, os fantasmas de natais passados lhe visitavam.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
MODUS OPERANDI
Quinta-feira, durante uma dessas tempestades de fim de tarde que anunciam a chegada da época mais desagradável do ano(vulgo Verão), caiu um raio perto, muito perto da casa dele. Ele ouviu um estrondo, seu martelo vibrou, estremeceu, e um cheiro forte de fuligem entupiu suas narinas. Ele estava no computador, imagino que vocês tenham idéia do que aconteceu: isso mesmo, o cheiro ruim vinha do computador. O computador travou instantâneamente e atortoado ele teve que desligá-lo, pois o PC não respondia, coisa que já se acostumara depois de um relacionamento longo e conturbado. Assim que o religou e tentou reconectá-lo a internet, seu receio se tornou uma realidade: o discador não funcionava, embora a linha telefônica estivesse ativa e o diagnóstico do modem fosse positivo. Ele já pressentia, sabia, o modem queimara - a autópsia que realizou a posteriori indicava que o modem sofrera uma sobrecarga elétrica. Ele ficou muito preocupado a princípio, por pouco não atravessou a fronteira e entrou nos limites do Desespero, mas sua frieza e racionalidade, toda domesticidade aprendida ao longo dos anos o impediram de seguir em frente. Ele ligou para um amigo perito em informática que lhe devia dinheiro, favores, algumas bebidas e umas doses de consideração. Explicou o problema e ouviu os risos e deboches típicos dele antes de prontificar-se a lhe dar um auxílio técnico. Ficaram mais de meia hora no telefone, enquanto ele desmontava seu PC inteirinho seguindo as recomendações do amigo na linha. Não conseguiu remover o modem danificado, a plaquinha moribunda, por falta de ferramentas apropriadas - mas divertira-se bastante dissecando o Longínquo(esse era o nome do PC - ele gostava de nomear coisas inanimadas) Seu amigo prometeu que viria olhá-lo pessoalmente - disse que viria devidamente acompanhado das ferramentas apropriadas e um modem reserva, que segundo ele talvez estivesse em condições de uso. Se não desse certo, ele estaria encrencado mais uma vez: teria que desembolsar uma grana razoável, se submeter aos preços extorsivos praticados pelas duas únicas lojas de informática da cidade, correr atrás de manutenção especializada, além de prolongar seu recesso virtual temporário. O monitor do PC estava se comportando de uma maneira estranha ultimamente - ele sentia que o monitor parecia meio abatido, quiça desmagnetizado. O mês de Agosto trouxera as bruxas mais cedo.
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